Os grandes navios de cruzeiros fazem um interregno na sua passagem pelos Açores. Rumaram à Europa, não sem antes aqui desembarcarem milhares de passageiros, em curta estadia, é verdade, mas permitindo conhecer a Ilha do Arcanjo e as suas belezas naturais.
Atrás deles começaram a chegar os iates de grande e pequeno porte. Estes necessitam da rota do arquipélago para abastecer e recuperar forças das duras lidas no mar, se bem que a navegação, agora, salvo alguns episódios pontuais, seja mais tranquila.
De ocidente a oriente, os veleiros já dispõem de portos adequados com infraestruturas que permitem acolher os tripulantes estrangeiros.
Por aqui passam milhares de pequenas embarcações, contornando as nossas costas, onde até há 30 anos, se caçavam cachalotes para extração de óleo.
Com o fim da atividade, os cetáceos agruparam-se nos mares do sul, sobretudo da Ilha do Pico, o maior santuário das baleias no Atlântico Norte, potenciando a observação de mamíferos marinhos.
Em São Miguel, há várias empresas do ramo, algumas operando todo o ano. Também elas se ressentiram dos efeitos da crise na Europa que reduziu toda a atividade turística.
Espera-se, no entanto, que os países ricos do norte, continuem a procurar os Açores, cuja natureza atrai os visitantes, sempre ávidos de conhecer a nossa idiossincrasia e belezas naturais. Esta é a nossa mais-valia, cada vez mais valorizada e reconhecida por operadores internacionais.
Associada à história destas ilhas, temos um acervo patrimonial digno de visita nas bibliotecas e sobretudo nos Museus.
A rede regional, onde se integram os antigos museus de Angra do Heroísmo e de Ponta Delgada, abarca também os museus das restantes ilhas à exceção do Corvo. É tutelada pelo Governo Açoriano. Para além dela existem outros museus municipais temáticos como o da emigração, na Ribeira Grande, e até o Museu Missionário, instalado nas Lajes do Pico.
Uns e outros são visitados, consoante a qualidade e o interesse do acervo exposto.
O Museu do Pico, com três polos: Museu dos Baleeiros, nas Lajes, Museu da Indústria Baleeira, em São Roque, e Museu do Vinho, na Madalena, é o mais procurado dos Açores. Em 2012, foi visitado por cerca de 34 mil pessoas, mais 14% que no ano anterior. A uma distância considerável ficaram o Museu Carlos Machado de Ponta Delgada (menos 12 mil visitantes) e o de Angra do Heroísmo (menos 18 mil).
É fácil concluir-se que os estrangeiros que, no sul da Ilha do Pico, vivenciam experiências fascinantes em contato com a fauna subaquática, gostem de aprofundar os seus conhecimentos observando o modo como viveu um povo que, durante quase dois séculos teve na atividade baleeira importante fonte do seu sustento.
O mesmo se passou em quase todas as Ilhas, nomeadamente em São Miguel.
Desse passado ficaram, porém, poucos testemunhos: a Fábrica da Baleia dos Poços, em São Vicente, que desapareceu, restando apenas a chaminé e a rampa de varagem, mas sem qualquer referência explicativa e, em redor da Ilha, algumas vigias de baleia, rampas e outros equipamentos, que, com o tempo, desaparecerão se nada se acautelar.
Felizmente, houve alguém que reconheceu a importância da atividade baleeira, em São Miguel. Ela está patente, no Parque Atlântico que tem um repuxo com um rabo de cachalote e o tradicional bote baleeiro das Capelas no corredor central, ao lado de um guincho.
Mas a observação de cetáceos obriga a que outras atividades náuticas se desenvolvam na baía de Ponta Delgada, agora beneficiada com o complexo das Portas do Mar. Faltam mais divertimentos náuticos e regatas de botes baleeiros à vela ou a remos, como há noutras ilhas, para preencherem os tempos livres dos visitantes e dos jovens.
Com o mar aqui tão perto e com tão agradável vizinhança sobretudo no tempo estival, importa que dele tiremos maior proveito lúdico e económico. Porque é o mar que molda o ser e estar dos açorianos; porque foi ele que construiu estas ilhas e porque é o oceano que as sustenta, nos bons e nos maus momentos.
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